história.de.parada.de.ônibus.

   Esses dias, me peguei conversando com um senhor de oitenta e três anos na parada de ônibus, aliás, sempre preferi conversar com senhores e senhoras de mais idade, costumam ser extremamente inteligentes e ter bastante experiência de vida.
   Eu, muito animada, comecei a contar as peripécias que já haviam me acontecido, e ele respondeu: "tão nova e já com tantas histórias para contar!" Eu ri.
   Então, este senhor me perguntou "posso lhe contar uma história do pior tempo da minha vida?" Respondi que sim, gosto de saber histórias tristes, elas me inspiram. Então o senhor começou a história…
  " Eu devia ter uns setenta e poucos anos, ao que me lembro. Minha memória anda meio fraca, menina. A rotina de trabalho estava me deixando literalmente louco. Minha família não sabia mais o que fazer. Aliás, acho que nunca nem se interessaram em me ajudar. Minha esposa e filhos decidiram e então vieram me informar: 
   "Querido, não é o que queríamos mas iremos precisar lhe internar em uma clinica psiquiátrica, sinto muito. 
   Beijos, sua esposa Ana. "

  Me internaram. Passei os dois piores anos da minha vida lá, pensando em como as coisas poderiam ter sido diferentes se não fosse pelo cansaço e a loucura que a rotina me causou até me levar ao ponto de ser internado. 
   Era torturante acordar de manhã cedo com os gritos dos outros internos, ou "loucos" que lá estavam, como tu preferir. Ainda mais sabendo que o meu lugar não era lá (já que eu era alguém normal, só um pouco estressado e louco com a rotina massacrante de um empresário que já não era mais um adolescente).
     Digo que foram os piores dois anos da minha vida mesmo sabendo que foi bom ter estado lá com a companhia apenas de mim mesmo, e dos outros internos que estavam lá, claro. Mas que nunca fizeram a menor diferença já que nunca fiz questão de conversar com nenhum. 
    Mas como eu ia dizendo, menina, foi bom ter estado lá com a companhia apenas de mim mesmo pois aprendi a lidar melhor com os meus problemas a dar mais valor para a vida que eu costumava ter... Quem diria, fui aprender isso só nos meus 70 anos, como diria a minha filha mais nova "com o pé na cova". 
    E hoje, nos meus oitenta e poucos anos, me orgulho de ter passado o que passei e de ter aprendido o que aprendi (aprendi o que queria mas não da maneira que imaginava, mas tudo bem). Quer dizer, não me orgulho de ter sido abandonado, isso não, mas da experiência que ganhei. "
  
O senhor terminou de contar a história com um enorme sorriso no rosto. Pensei comigo: "como pode este pobre senhor sorrir contando uma história tão triste?" Então, resolvi fazer a pergunta de uma vez... 
  E o senhor com lágrimas nos olhos respondeu: "Tudo o que ocorre em nossa vida tem um motivo, a vivência que tudo isso me proporcionou foi maior do que o sofrimento que passei.Sorri, desejei que o senhor tivesse tudo de bom na vida dele e falei que precisava ir, afinal, já estava quase atrasada para o meu ônibus.

(CRÔNICAS- Teixeira, Lia- 06/04/15) 
    

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